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    Brunches no Wonderwerk
    06 MAI 2021 – 12 JUN 2021

    Na época da revolução industrial, quando o artesanato deu lugar às máquinas, aconteceu uma mudança radical na forma como as mercadorias eram transportadas e armazenadas. De objetos pragmáticos, as embalagens e caixas receberam uma responsabilidade adicional: persuadir pessoas a comprar o produto dentro delas.

    O novo corpo de trabalho do artista britânico radicado em São Paulo Dan Coopey, retrata este momento e suas longas reverberações, à medida que os objetos se tornaram verdadeiros exercícios de marca; os alimentos que comemos, nossos objetos essenciais de sobrevivência, embalados em narrativas e invocações capitalistas para gastar dinheiro.

    Em uma série ainda sem título, Coopey utilizou vários sacos de carvão e os entrelaçou como cestas individuais. Os desenhos originais das embalagens – cada um diferente, mas contendo um léxico semelhante de motivos de chama e fogo e uma paleta de vermelho e preto – tornam-se abstratos à medida que passam para dentro e para fora dos canudos de papel e costura de poliéster revestido de cera de Coopey. Esta transformação resulta em um design mais parecido com o padrão que decorava as embalagens pré-industriais. As esculturas trazem uma sensação antiga e primordial, invocando os primeiros momentos da civilização e o uso produtivo do fogo. Isto é reiterado na escolha do título de Coopey para a exposição: as cavernas Wonderwerk, na província do Cabo Norte, na África do Sul, contêm as primeiras evidências do uso controlado do fogo pelo homem (os nomes que podem ser extrapolados para uma marca, do tipo que poderia enfeitar um certo tipo de restaurante familiar ao redor do mundo). Coopey devolveu o carvão ao vasilhame; o eucalipto queimado é uma prova da destruição ambiental que foi acelerada nessa marcha para a modernidade.

    Montado em uma caixa de mercado, está o Stack, o maior trabalho de tecelagem de Coopey até hoje. Abstrato na natureza, suas bordas tecidas de ráfia deixadas propositalmente inacabadas, costuradas com fio plástico para formar uma coluna vaga, é um monumento auto-depreciativo ao design vulgar; ao hobbyismo levado ao ponto de obsessão em que habilidades práticas são autorizadas a ter a liberdade de criar objetos aparentemente sem propósito. Ao mesmo tempo, lembra um ninho gigantesco em sua aspereza, uma referência trazida à tona em uma escultura de palma moriche e tecido de ráfia aparentemente instalada de maneira precária na borda superior de uma porta da galeria (lembrando como as cegonhas adaptaram seus ninhos aos ambientes urbanos). As cestas são uma tecnologia originária, entendida como sendo anterior à cerâmica, e os ninhos podem ser entendidos como sendo as cestas originais; uma confusão visual no status desses objetos que Coopey aqui criou.

    Dan Coopey (1981, Londres, Reino Unido)

    Coopey cresceu na Inglaterra rural, seus avós eram pequenos fazendeiros e seu avô era adepto do artesanato e de todas as coisas práticas. Esta herança biográfica é lembrada em mais uma série de obras de cestaria nas quais os ovos aparecem. Comprados de uma família semelhante à de Coopey, comerciantes do mercado local próximo ao apartamento do artista em São Paulo, os ovos são vistos sendo transportados de várias maneiras intrincadas. Em uma delas, um único ovo se equilibra de maneira aparentemente precária na dobra de uma trama oscilante, sua superfície creme se contrapõe ao marrom escuro da fibra da banana; em outra, uma dúzia de ovos, com uma tonalidade de azul particular, vinda de uma série de caixas de ovos empilhada na banca do mercado, são mantidos em fila, acondicionados em uma construção de palma e ráfia com mais de um metro de comprimento. Em um terceiro trabalho, duas dúzias de ovos brancos são amarrados em uma escultura de palma em forma de tigela por uma variedade de fios de plástico coloridos organizados como uma malha de segurança. O mercado vende os ovos individualmente, embora invariavelmente eles sejam comprados em unidades de meia dúzia, uma dúzia, duas dúzias ou mais: no supermercado, este sistema é padronizado. Interrogando sua própria posição como europeu no Brasil, Coopey seguiu esta unidade de venda, uma forma invisível de colonialismo, resquício de quando a moeda britânica continha 12 centavos para um xelim, uma tradição absurda a ser levada por todo o mundo moderno. Juntos, estes trabalhos brincam com e contrastam com a codificada, monetizada e colonizada astúcia do design na modernidade; codificados e registrados como embalagem e os produtos nele contidos sendo introduzidos no mercado líquido do capital.