Em “Detailed close-ups of far-off scenes” utilizo a fotografia como ferramenta para investigar e confrontar realidades construídas, mitos e crenças, o que parece ser a prova de uma verdade, e a ténue barreira entre verdade, ficção e fé.
O trabalho consiste em documentar, usando imagens e objectos, o que considero situações arquetípicas de falsificações, embustes ou simples fabricações de verdades e mentiras com o único objectivo de enganar, bem como casos em que o que está em jogo é apenas a percepção e a crença.
As imagens organizam-se de particular em particular, numa espécie de entropia desorientadora na qual não é possível encontrar ou discernir uma fórmula muito clara que explique como se organizam estas situações e como é distribuída a informação — que cobrem, entre outras áreas, política, ciências naturais, arte, história, arquitectura, arqueologia ou comida. Assemelhando-se mais a um exercício de associação livre, uma parte significativa do meu trabalho consiste não em fotografar, mas sim em pesquisar e editar.
Cada imagem ou objecto é acompanhado por um texto que descreve o facto documentado, dado que é impossível que o artefacto por si só conte a situação a ele associada.
Este é um projecto em curso, e ainda longe de estar terminado e portanto esta exposição mostrará uma pequena seleção do trabalho que desenvolvi até agora. Falar-se-á de Veermers falsificados e elevados ao estatuto de milagre, de como as impressoras e fotocopiadoras nos espiam e marcam os documentos que imprimimos sem nosso conhecimentos, de como um achado arqueológico forjado condicionou profundamente a ideia de evolução humana durante décadas, de como tratar dores fantasma em membros do corpo que foram amputados, de como fotografar pessoas mortas dando a impressão de estarem vivas, da diferença entre diamantes sintetizados e diamantes naturais e de como são quimicamente iguais, e de como a administração de medicamentos placebo pode correr mal e matar o paciente.
Carlos Azeredo Mesquita (Porto, Portugal, 1988)
Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e pela Universidade de Arte e Design Moholy-Nagy (Budapeste, Hungria), onde estudou fotografia.
Trabalha como artista visual e performer, apresentando regularmente o seu trabalho em Portugal e no estrangeiro.