Em “Inside here there are no stars” Sérgio Fernandes apresenta nove pinturas maioritariamente de grandes dimensões. Nove pinturas que lidam com cor, escala, espaço e acima de tudo, com significado, significado traduzido através da experiência de as confrontar uma a uma ou em conjunto.
O contraste entre planos abstractos de cor configura formas e rejeita qualquer modo estabelecido de criação de imagens no campo da pintura. Josef Albers refere que em percepção visual a cor quase nunca é vista como realmente é, como fisicamente é, talvez seja por isso que as pinturas de Sérgio Fernandes se alteram mediante o tempo despendido na sua observação assim como consoante as variações de níveis de luminosidade que ocorrem a diferentes alturas do dia. Demoradamente as formas tornam-se progressivamente mais claras ou mais escuras, destacam-se ou misturam-se com o fundo, os seus limites esvaem-se ou definem-se, desenhando espaços.
O espectador é confrontado com um modo espiritual e contemplativo de apreciação de cores que desafia as suas “portas da percepção”. Através desta série de pinturas, o artista parece perseguir um objectivo que lhe é exterior e, de algum modo, desconhecido, apresentando-nos uma incessante procura em atingir algo pleno através da pintura, algo exterior, elevado a uma condição religiosa. Encontra raízes em Mark Rothko, Barnett Newman e Clyfford Still, The Colour Field Painters ou os pintores do campo de cor, cujo trabalho é caracterizado por grandes áreas de cor única mais ou menos plana associadas a um conteúdo emocional, mítico ou religioso. Rothkowitz Spell surge a partir do confronto do artista com uma peça de Mark Rothko cuja imagem o acompanhou por largos meses como se um feitiço lhe tivesse sido lançado.
Em adição a isto, as telas de grandes dimensões desafiam a escala humana, apresentam-se maiores do que o corpo e estimulam o foco do espectador que se vê envolvido numa experiência de arte total. Apesar das poucas ou nenhumas pinceladas visíveis adivinham-se os gestos amplos descritos pelo corpo do artista durante a sua execução. Tecnicamente pincelada anula pincelada, gesto anula gesto, permitindo o resultado imaculado de cada superfície e uma perfeição absorvente que hipnotiza invocando um tempo suspenso.
Sérgio Fernandes apresenta-nos uma série de trabalhos interiores, ou seja, de trabalhos oriundos do seu interior mais profundo que transmitem emoções humanas em todo o seu esplendor, emoções que variam entre a alegria, o êxtase e a vida e a tristeza, a depressão e a morte. Através das suas pinturas, o espectador é transportado para “o vazio”, para o início de tudo, para a sua condição mais pura e genuína, para um início onde não há estrelas.
“Eu sou o vazio, eu não tenho ideia nenhuma. O meu trabalho acontece porque vivo, porque vejo coisas” refere Sérgio Fernandes.
Joana Duarte
Sérgio Fernandes (1985, Sobralinho, Portugal)
Vive e trabalha em Lisboa, Portugal. Licenciatura em Belas Artes Pintura, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e Pós-graduação em Artes Visuais/Poéticas Visuais, ECA Universidade de São Paulo. Expõe desde 2008. Das exposições que integrou destacam-se, a exposição individual: “um blue” no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor (Ponte de Sor, 2018), “SOLITUDE” na Kubikgallery (Porto, 2016), “THINGS BEHIND SOMEWHERE (small paintings)” no Espaço Cultural Mercês (Lisboa, 2014). E as colectivas, “Enlace” na Central Galeria (São Paulo, 2017), “Force, Strength, Power, (Parte I e II)” na Galeria Baginski (Lisboa, 2017), “HORIZON”, Biblioteca Camões (Lisboa 2015), “CON- CRETE MIRRORS”, Crypt Gallery, (Londres, 2012), “ABRE ALAS 8”, Galeria A Gentil Carioca, (Rio de Janeiro, 2012) (trabalho exposto no Centro de Artes Hélio Oiticica), “Aduana” MNHNC (Lisboa, 2011), “DÉCOUVERTS” “RESUMÉ” e “RESUMÉ 2” na Trafic Galerie, (Paris, 2009 e 2011) e ZIP BUNG, Sala do Veado, MNHNC (Lisboa, 2011). Participou também em residências artísticas nas quais se destacam, Inter.meada (Alvito, 2017) e PIVÔ Arte e Pesquisa (São Paulo, 2016).