A trajetória artística de Emmanuel Nassar começa no início dos anos 80 e desde essa época que o seu trabalho se tem mostrado essencial para questionar conceitos que, até então, pareciam estar bem esclarecidos, como a arte popular brasileira ou a pop art produzida no Brasil. A sua paixão pelas cores fortes e as soluções construtivas improvisadas dos mercados, parques, circos, brinquedos populares da periferia de Belém (onde nasceu), combinadas com as referências aparentemente contraditórias na história da arte conceptual, construtiva e pop art, resultam num exercício de equilíbrio, critico, precário e irônico.
O termo Trapiocas é uma criação do artista que parte da tapioca – tema regional do estado onde vive, produto da mandioca – e que aqui funciona como trocadilho, pois “trap” significa armadilha em inglês. Sonoramente, esta palavra assemelha-se a uma trapaça, uma artimanha que funciona aqui como uma armadilha do olhar e é neste sentido que Nassar orienta esta exposição.
As referências à cultura popular brasileira estão sempre presentes no trabalho do artista, porém, existe também um conteúdo mais erudito e uma preocupação de equilibrar os dois: o uso da geometria, que reflete a influência do construtivismo, da Bauhaus, de um Mondrian e, ao mesmo tempo, o artista explora o improviso, o mal feito, o artesanal. Este jogo entre os dois campos acaba por se relacionar com aquilo que aconteceu na pop art Americana, com a apropriação de referências da cultura popular e de massa desse país. No entanto, a cultura popular Brasileira é bastante diferente da cultura popular Americana pois está mais associada a uma produção regional de artesão, menos massificada, em oposição à segunda que é uma cultura focada nas massas, mecanizada, em série. Portanto aqui interessa explorar a repetição e apropriação na pop art Americana referenciando-se no contexto da cultura popular Brasileira. É interessante pensar na repetição nesse contexto pois ao se apropriar de algo que é artesanal, o artista está a repetir um processo manual, “único”, tornando-se então numa contradição. Daí voltamos a pensar numa “trap”, numa rasteira, confusão, numa armadilha do olhar.
A preferência por determinados materiais também se insere nesta contradição devido à sua natureza de origem popular ou de construção como o ferro, chapas, restos de propaganda, coisas/objetos encontradas no lixo ou ferro velho, que são depois tratados pelo artista como geometria pura, como design. Existe uma apropriação dos materiais que são retirados dos seus contextos e introduzidos no campo da arte contemporânea, da pop, do construtivismo.
Para Nassar, esta exposição é uma espécie de espetáculo de magia, onde se ilude e diverte o público revelando aos poucos, as contradições que vão surgindo em cada peça.
Texto de Marta Rodrigues.
Emmanuel Nassar (1949, São Paulo, Brasil)
O artista expôs nas 20a e 24a Bienais de São Paulo, ganhou o grande prêmio da 6a Bienal de Cuenca e participou da 45a Bienal de Veneza. A sua obra está nas coleções do University Essex Museum (Inglaterra), Fundação Cisneros – Coleção Patricia Phelps de Cisneros (New York/Caracas), Marcantonio Vilaça, MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea de Niterói e de São Paulo, Museu do Estado do Pará, Coleção José Olympio e outras coleções privadas na Europa.