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    ¿De que casa eres?
    Ana Pérez-Quiroga
    22 SET 2018 – 17 NOV 2018

    Este é um projeto de investigação e materialização artística sobre um fenómeno sociopolítico da história de Espanha: o exílio de 2895 crianças republicanas na União Soviética, devido à Guerra Civil Espanhola; o impacto que a invasão Alemã da URSS durante a II Guerra Mundial teve nestas crianças; e os 20 anos passados na URSS até ao regresso a Espanha (1937-1957).
    Sendo um fenómeno da história de Espanha, tem ligações ao nível da história da Europa e do Ocidente. Tem também um cariz autobiográfico, dado que a minha mãe e tia integravam este grupo de crianças exiladas. A expressão ?De que casa eres? parece-me totalmente adequada aos múltiplos contextos em que a pretendo explorar. Esta era a pergunta que as crianças faziam entre si e que assume aqui uma dimensão de pertença a um país – espanhóis na Rússia e russos em Espanha – afinal, “Siempre […] un emigrado, una condición especial que se queda en el alma”1 .

    Assim sendo, parto da pequena narrativa de uma memória familiar, para a grande narrativa de um dos eventos de fragmentação do período da Guerra Civil Espanhola, procurando entender um fenómeno mais vasto na história de Espanha que foi o êxodo de cerca de 20.000 crianças, chamados de Niños de la Guerra, sem os seus familiares, para diversos países que se disponibilizaram a acolhê-los: França e respetivas colónias no norte de África, Reino Unido, Bélgica, Suíça, Dinamarca, Noruega e México, mas que voltaram quando a guerra civil terminou, ao contrário do que aconteceu às crianças que foram enviadas para a Rússia e que ficaram retidas por vinte anos, só voltando quando as negociações diplomáticas entre a Espanha franquista e a Rússia soviética se restabeleceram no final da década de 50 do século XX. O meu enfoque é dar a ver, através de um pensamento artístico, o fenómeno das alianças republicanas no exílio, no ano de 1937, e particularmente o conjunto destas 2895 crianças, entre as quais a minha mãe e tia, que foram exiladas na União Soviética, sem a família, e onde ficaram retidas 20 anos pelo estado que inicialmente as acolheu. Quando foi possível o regresso, foram confrontados com um drama familiar, onde as próprias famílias não os reconheciam, e com dificuldades de integração no seu país de origem.

    Por um lado, procuro resgatar esta página da história, num exercício de memória resistente contra o esquecimento, antes que deixe de haver sobreviventes que a possam relatar. Por outro, quero dar visibilidade a um precedente do fenómeno a que estamos a assistir com a migração Síria: uma nova vaga de refugiados na Europa, que não está a ser capaz de prestar o auxílio que lhes é devido.