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    Emergency Exit
    João Felino
    26 JAN 2019 – 09 MAR 2019

    Penso e nesta convicção seguramente não estarei só, que o conjunto do público do que designamos por arte, muito raramente é homogéneo. Existe sempre uma tensão entre aqueles que se interessam, antes do mais, por aquilo que é dito, ou que num dado momento e para uma dada sensibilidade está sendo dito e aqueles que privilegiam o modo. Nem uns nem outros, poderão compreender no seu justo valor e tirar o máximo proveito da obra de arte. Entre estes dois extremos, há um público que é curioso, mas que não tem ainda opiniões definitivas. É aí que encontramos pessoas que estariam prontas para reexaminar as suas posições provisórias. Ainda assim, há obras que poderão ter um valor semântico mais esotérico ou complexo, no entanto, estas dirigem-se fundamentalmente a um publico mais restrito, constituído por especialistas, como é o caso das pessoas que frequentam as galerias. Evidentemente no meio artístico há um grande interesse pelas qualidades especificamente semânticas das obras, para não dizer estritamente visuais, indagando de como elas se inscrevem na história da arte e do desenvolvimento de novos processos. Seremos mais hábeis para decifrar as formas como significantes e existirá uma apreciação mais clara da utilização das várias tecnologias e processos. Em todo o caso, mesmo quando se privilegia um dos dois aspectos, qualquer um sentirá ainda que confusamente, a presença do outro. Qualquer um terá apesar de tudo, o sentimento ainda que vago, de que através das formas se exprime uma mensagem; e que a mensagem não passaria se não houvesse uma forma adequada.

    No entanto, sempre que utilizamos esta dicotomia privilegiando por exemplo aquilo que a que chamamos ainda que provisoriamente, de forma, operamos uma cisão sobre o próprio objecto. Que só não é irreparável, porque, quer o impacto de um dado objecto, quer a sua significação, não são fixados para toda a eternidade, dependendo dos mais variados contextos nos quais são examinados. Por outro lado, como sabemos, os objectos que constituem a história da arte não foram produzidos num qualquer vazio social. Na verdade, os próprios artistas eram e são bem conscientes das determinantes político-sociais do seu tempo. Todo o objecto está assim inevitavelmente investido de conotações simbólicas, e não menos ideológicas. Não é diferente aqui. Significativamente, estes objectos problematizam o efeito do museu, que arranca cada obra de todo o seu contexto, exigindo o olhar puro. Não tanto porque pretendam forçosamente restabelecer qualquer tipo de ligação com o contexto, ou de qualquer modo, com o universo de possibilidades das suas múltiplas contextualizações, mas sim e antes de mais, porque são a própria evidência ou a prova evidente de uma fractura, ou melhor, de uma falha. Em todo o caso, não poderemos escapar todos à evidência de uma série de implicações, que inequivocamente reforçam o seu valor semântico, e que ainda mais nos impelem ao tipo de indagações que qualquer obra de arte exige aos seus destinatários. Para além de fornecerem um (novo) contexto extraordinariamente operativo, no sentido de com muito mais probabilidades, permitir que possa ser (r)estabelecida uma ligação. O que aqui é dito, leva em conta as circunstâncias em que é dito. Isto porque a boa linguagem, é aquela que tem um propósito e vem a propósito para além da sua eficácia.

    in Joao Felino; Signature; Art Attack, Museu da Cerâmica; Caldas da Rainha; Jun 20 – Jul 19, 1998